João Adolfo Guerreiro
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Charqueadas 40 anos: "pulando a cerca" ou "atravessando o arroio"?

 

Bom, hoje encerraremos nossa pequena trilogia sobre o níver de emancipação da quarentona Charqueadas - Charky City ou Charqueadolândia para os íntimos já veteranos -. abordando o processo. Vimos como foi "concebida" em 28 de março de 1982, quando "nasceu" em 28 de abril daquele ano, o primeiro "namoro" (e a "briga por mulher") em 1966 com o "noivado" interrompido em 1967 e chegamos ao segundo "namoro" e aos "pais da criança", em 1979, que daria em "divórcio" definitivo com São Jerônimo em 1982. Antes disso, voltemos um pouco no tempo em nosso texto, a fim de vermos que até "pulada de cerca" tivemos nessa história...

 

Corria o mês de setembro de 1975, já passados quatro anos e um mês desde que a primeira comissão emancipadora de nosso intrépido Carolino Euzébio Nunes terminara seu "noivado" separatista. E vocês sabem como é, né, o tempo passa, a pessoa fica sozinha, se sente carente e... Pois é, então, conforme as palavras escritas na Monografia Charqueadas do historiador Saldino, "quase no anonimato" (Pires, 1986, p. 129), como convém a uma "pulada de cerca", um grupo de pessoas que participaram da primeira comissão, ainda insatisfeitas com o descaso da sede, resolveu ir até Arroio dos Ratos propor que ele aceitasse "desposar", digo, anexar Charqueadas como seu distrito. Pra quê! Óbvio que isso revoltou muita gente na cidade, que se sentiu traída com essa "pulada de cerca" ou, mais propriamente ao caso, "atravessada de arroio" (1). Deu protesto, a pedido em jornal, mas a verdade, o fato duro e dolorido, é que Arroio dos Ratos também não quis saber de Charqueadas. Ou seja, nem fome e nem vontade de comer, fim de caso, dor sem prazer. Então o lance era mesmo tentar carreira solo e insistir no "divórcio". E ele veio, devido a alteração da lei sobre as anexações.

 

E aqui conhecemos um dos "padrinhos" de Charqueadas, o deputado federal pelo PDT Lidovino Fanton (1920 - 1982), autor da lei que flexibilizou as regras para criação de município. [NR - Claro que essa legislação era cheia de detalhes, entretanto não alargarei esse texto com eles, só fiquem sabendo que eles existiram.] Natural de Farroupilha, promotor de justiça, morreu em 12 de setembro de 1982, poucos meses após o "parteiro", governador Amaral de Souza (1929 - 2012), criar o município, em 28 de abril. Assim, a segunda comissão foi criada (vide texto de ontem, no link abaixo) em 1979 e reiniciou o "namoro" emancipacionista, com grandes chances de "noivar" e "divorciar" (2), o que, bem sabemos atualmente, acabou acontecendo.

 

O segundo "padrinho" foi o deputado estadual pelo MDB Nivaldo Soares (1926 - 2019), nascido em Uruguaiana. Devido aqueles detalhes acima sobre os quais não falei, o deputado, então presidente da Comissão de Constituição e Justiça da AL/RS, em seu parecer "aprovou praticamente na coragem" (Pires, 1986, p. 138) o processo de emancipação de Charqueadas, em 4 de dezembro de 1981, coincidentemente (ou não) dia de... Santa Bárbara (e já quiseram terminar com o feriado municipal da padroeira dos mineiros, vejam só)! Depois é o que a gente já sabe: ocorreu o plebiscito, a criação e a separação, ou melhor, "concepção", "nascimento" e "divórcio" e todos foram felizes para sempre por esses quarenta anos.

 

Terminando a trilogia, não poderia deixar de mencionar brevemente duas coisas, ligadas uma à outra e à emancipação: o prefeito de São Jerônimo à época, José Manoel Gonzales de Souza (1949 - 1998), e a Anexação do Horto Florestal da CEEE. Nascido e criado no distrito, no seio de uma família tradicional e histórica de Charqueadas, elegeu-se prefeito de São Jerônimo para o quadriênio 1977 - 1982, justamente quando as coisas aconteceram... Posteriormente, de 1993 a 1996, foi prefeito de Charqueadas, período no qual ocorreu a Anexação do Horto, ampliando o território do município e se tornando, conforme Lei Municipal 786 (23/10.1996) por ele sancionada e promulgada, "o 1º Distrito de Charqueadas, denominado Fernando Kroeff" (Veit, 2012, p. 24). José Manoel foi um grande charqueadense, talvez o maior personagem de nossa breve história (seu filho, Simon Heberle de Souza, foi prefeito da cidade entre 2017 e 2020), e o processo de criação do distrito Fernando Kroeff é fato a ser contado em outro momento.

 

 

Notas:

(1) - Sim, todos sabemos que para ir até o município de Arroio dos Ratos não precisamos atravessar o arroio homônimo (foto acima), é só pegarmos aquela estrada de chão que sai do bairro São Miguel e que vira atoleiro quando chove, mas o autor se permitiu essa licença poética em sua prosa.

(2) - Sim, nessa história o namoro e o noivado acabam em divórcio, não em casamento. É uma metáfora surreal, de pé-quebrado, que julguei bem adequada à narrativa. Nela, ainda, a "criança" é a Charqueadas município e a "namorada", "noiva" e "divorciada" é a Charqueadas distrito.

 

Fontes:

PIRES, Saldino. Histórias do povo de Charqueadas – um patrimônio ainda desconhecido. Barra do Ribeiro: Naibert, 2012.

PIRES, Saldino. Monografia Charqueadas: sua origem, sua história, sua gente. Charqueadas: Folha Mineira, 1986.

VEIT, Benedito. Charqueadas 30 anos (1982 – 2012), fatos e fotos. São Jerônimo: Info Gráficas, 2012.

VEIT, Benedito. Diário de Charqueadas. São Jerônimo: Info Gráfica, 2011.

VEIT, Benedito. Por que Charqueadas? São Jerônimo: Gráfica PBS, 2008.

 

Leia mais:

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João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 30/03/2022
Alterado em 30/03/2022
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