João Adolfo Guerreiro
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Volta às aulas 100% presenciais com Ômicron é segura?

 

Óbitos e internações em UTI de crianças vem aumentando nos últimos dias no Rio Grande do Sul, mas, mesmo assim, hoje iniciam as aulas 100% presenciais em todo o Estado para a Educação Infantil, público com idade de 0 a 5 anos e 11 meses (os demais voltam a partir do dia 21), ainda não contemplado pela vacinação contra a Covid-19. Somente na capital, Porto Alegre, mais de 30 mil crianças na idade supracitada retornam (1). Será o momento certo, no tocante à manutenção da saúde e à preservação da vida das crianças?

 

Em janeiro, foram registrados 4 óbitos de crianças no RS (2), número igual ao de fevereiro de 2021, o maior até então notificado. Até o momento, em toda a pandemia, 32 crianças gaúchas foram vítimas fatais de Covid-19, quase um terço delas menores de um ano (*). Agora em fevereiro, com o "paredão" de casos gerado pela variante Ômicron - o maior, disparado, de toda a pandemia, superando março de 2021 (3) -, as internações de crianças, inclusive em UTI, estão batendo recordes. Pelo telejornal Bom Dia Rio Grande, hoje pela manhã, soubemos que "tem hospital que atingiu o maior número de crianças hospitalizadas desde o início da pandemia" (4): no Hospital de Clínicas são 20 crianças hospitalizadas, 4 em UTI pediátrica; no Hospital Criança Conceição, 12 casos positivaram, estando 8 na enfermaria e 3 na UTI, além de crianças na emergência esperando resultados de teste; no Complexo da Santa Casa, 11 crianças estão na enfermaria e 1 na UTI. Ainda segundo a reportagem, as internações são recentes e nenhuma delas está vacinada, embora, pela idade, algumas já poderiam estar imunizadas. Por falar em imunização, o Estado deve, pelo ritmo atual, onde 9.3% de crianças de 5 a 11 anos foram parcialmente vacinadas até agora, atingir apenas dia 22 de agosto (5) o índice de 100% para essa faixa etária. Repito: esse grupo retorna dia 21 de fevereiro às aulas 100% presenciais.

 

O QUE NOS DIZEM MÉDICOS, EPIDEMIOLOGISTAS E INFECTOLOGISTAS?

 

Para o professor da UFRGS Paulo Petry, EM TERMOS GERAIS, "é natural que as crianças sejam mais afetadas" pois "são, hoje, o grupo mais amplo que não tem vacina" e "agora, vem a volta às aulas, o que é um perigo" (6). Acrescenta ainda que "demoramos [a iniciar a vacinação], com algumas autoridades negando, aquela consulta pública [feita pelo Ministério da Saúde] que foi perda de tempo absurda". O médico Dráuzio Varela reforça a crítica de Petry: "A Justiça precisa punir os criminosos que atentam contra a saúde pública. (...) ...o ministro [da Saúde] e seus auxiliares encarregados do trabalho sujo fazem o possível para desacreditar a vacinação e semear dúvidas sobre a segurança das preparações aprovadas pela Anvisa" (7).

 

Especificamente SOBRE O RETORNO 100% PRESENCIAL (8), o infectologista Bruno Ishigami é taxativo: "A gente está vivendo um aumento de casos entre as crianças e um aumento das hospitalizações. Isso ainda não se refletiu no aumento de óbito entre as crianças, mas acho que já é motivo suficiente para a gente ficar alerta. Por onde a Ômicron passou, o comportamento tem sido esse, de aumentar casos e internações entre crianças. Some-se a isso o fato de grande parte das crianças não estar vacinada. Defendo que a gente segure um pouco mais. Entendo a importância da volta às aulas para as crianças, mas estamos tendo tantos casos agora que acredito que não custa esperar um mês para vermos como a Ômicron vai se comportar". Seu colega Alexandre Schwarzbold endossa: "Esse é o momento em que a gente deve pesar os impactos que tem o afastamento das crianças das escolas do ponto de vista social e mental com o risco eventual de que algumas crianças podem ter. (...) ...a capacidade das crianças serem afetadas vai ser maior do que a dos adultos não por serem crianças, mas por serem, talvez, a única população que ainda não está completamente imunizada".

 

Quanto AO QUE PODE ACONTECER NAS SEMANAS VINDOURAS em relação ao contágio da variante Ômicron (9), a professora de Estatística e Epidemiologia da UFRGS, Suzy Camey, acentua: "Dá para falar, nesse momento, apenas em desaceleração. Não é possível falar ainda nem em estabilização nem em queda". Já o coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schwartzhaupt, lembra que "na Áustria, na Alemanha, a onda da Ômicron subiu muito rápido, caiu muito rápido, mas 15 dias depois já havia nova onda. E maior do que a anterior". Avaliando a atual tendência de desaceleração de casos e hospitalizações no RS, o infectologista Ronaldo Hallal alerta (10): "Não dá para afirmar ainda que esteja caindo o número de casos. Precisamos observar mais uns 15 dias para ter ideia mais clara. É preciso cautela para identificar um real platô e tendência de redução".

 

O QUE PODEMOS CONCLUIR?

 

Penso, de acordo com a realidade acima exposta e mediante a opinião dos especialistas citados, que não é o momento seguro para um retorno 100% presencial às aulas pelo público escolar de 0 a 12 anos enquanto ele não estiver com a imunização de duas doses completa, pelo menos. Porque arriscar a vida de, sabe-se lá, quantas crianças? Vale a pena isso? O que justificaria correr tamanho perigo?

 

Devemos ter em conta que nas últimas 24 horas o RS registrou 105 mortes por coronavírus, a maior quantidade diária desde julho de 2021, assim como a média de óbitos, 49.6/dia. E esses são números crescentes. Por outro lado, é também fundamental, nesse quadro, considerar que a campanha de vacinação anda a passos lentos (11), quase estagnada, o que é preocupante, quando 73.3% da população gaúcha está com duas doses e 26% com a terceira. Para Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e médico no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, isso se deve "à massiva campanha informal do governo federal contra as vacinas com o apoio de muitos médicos que divulgam isso em consultórios. O Estado não faz nenhuma campanha para contrapor esse discurso. O resultado é que um grande número de pessoas que não é antivacina, mas que tem receio, não se vacina".

 

Nota:

(*) - Perfil das crianças vitimadas: até 1 ano 31%, de 1 a 5 anos 38% e de 5 a 12 anos 31%, sendo 53% do sexo masculino e 47% do feminino. Fonte: ZH, 02.02.2022, p.15.

 

Fontes:

(1) - KLEIN, Samantha. Alunos da Educação Infantil da Capital voltam às salas. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 09.02.2022, p.15.

(2) - ROSO, Larissa; GONZATTO, Marcelo. RS registra quatro mortes de crianças por covid em janeiro. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 02.02.2022, p.15.

(3) - HARTMANN, Marcel. Janeiro ultrapassou o pico de março de 2021. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 02.02.2022, p.14.

(4) Jornal Bom Dia Rio Grande, RBS TV, Porto Alegre, 09/02/2022: https://globoplay.globo.com/v/10284223/

(5) - PALUDO, Letícia. RS deve concluir em agosto aplicações de primeira dose. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 08.02.2022, p.14.

(6) - Jornal Zero Hora. Demora na vacinação acentua vulnerabilidade. Porto Alegre, 02.02.2022, p.15.

(7) - VARELLA, Dráuzio. Bolsonaro e seus acólitos estúpidos destroem a saúde pública impunemente. Jornal Zero Hora, Caderno Vida, 5/6.02.2022, p.7.

(8) - PALUDO, Letícia. Volta 100% presencial começa na quarta. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 03.02.2022, p.14.

(9) - JACOBSEN, Gabriel. Ômicron ainda avança no RS, mas dá sinais de desaceleração. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 04.02.2022, p.18.

(10) - JACOBSEN, Gabriel. Estado Registra 105 mortes por covid-19 em 24 horas. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 09.02.2022, p.15.

(11) - HARTMANN, Marcel. Vacinação estaciona no Estado. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 09.02.2022, p.14.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 09/02/2022
Alterado em 10/02/2022
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