João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
Pai & Mãe

"Pai e mãe, ouro de mina" - Djavan.

Nunca chamei meu pai e minha mãe pelos seus nomes, só de pai e mãe. Estranhei quando ouvi a deputada Luciana Genro se referir publicamente ao seu pai como "o Tarso". O cronista Luis Fernando Veríssimo até hoje se refere a Érico Veríssimo como "o pai", que é o que faço e acho mais natural. Inclusive não gosto que minha filha me chame pelo meu primeiro nome. Na adolescência ela quiz começar com isso e eu cortei os naipes dela: "Sou teu pai, não gosto que tu me chames como qualquer outra pessoa chama". A palavra "pai" sempre soou como abençoada música aos meus ouvidos.

Com os meus, jamais, em qualquer idade, senti naturalidade de chamá-los de Ivone e Nery, como seus amigos e parentes. Ora, só eu e minha irmã no mundo podemos os chamar de pai e mãe, então, de minha parte, nunca abri mão dese privilégio: pai e mãe. Nunca deixei de me sentir, mesmo agora, depois de adulto, como filho, ou seja, jamais vi o pai e a mãe como adultos iguais a mim. Nada disso, são os meus pais e ponto final, sem relação simétrica com eles. Apenas assumi minha personalidade, identidade e independência como homem adulto, dono da minha vida. Só isso.

Não estou a dar regras e fazer julgamentos nessa crônica, apenas a manifestar como me sinto em relação a meus pais, já em idade avançada. São os meus tesouros, o "ouro" que canta o Djavan. Não se enganem: o único porto seguro que possuímos a priori nessa vida é a casa dos pais, os demais a gente constrói. O amor incondicional existe primeiro e de verdade na casa do pai e da mãe. Se ele vai durar ou se encontraremos isso mais adiante na vida é outra história.

Hoje fui a Porto Alegre e ouvi no rádio: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, pois se você parar pra pensar, na verdade não há". Esse refrão da canção do Renato Russo é bem manjado, mas é uma baita duma verdade, até por causa disso é muito citado. É perfeito! E tem tudo a ver com a vida do Renato, pois ele cantou isso e morreu jovem, aos 36 anos, em 1996 (dia11 fez 25 anos), de AIDS. Essa enfermidade também levou cedo, antes, o Cazuza (em 1990, aos 32 anos) e o Freddie Mercury (em 1991, aos 45 anos) - dia 24 de novembro fará 30 anos de seu falecimento. Renato Russo foi pai, os outros dois não.

"Quando a gente ama é claro que a gente cuida", escreveu o Peninha. Então, se pai e mãe são "ouro de mina", é preciso amá-los "como se não houvesse amanhã", pois, "na verdade, não há". Somos "gota d'água" e "grão de areia" nesse planeta e universo, somos a "nuvem passageira" do Hermes Aquino. Logo, garimpemos enquanto nos é permitido, até o vento não nos levar para a eternidade.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 20/10/2021
Alterado em 20/10/2021
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