João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
Capa Meu Diário Textos Áudios Fotos Perfil Livros à Venda Livro de Visitas Contato Links
Textos
COMO AS PESSOAS SÃO

Éramos somente eu e minha irmã de filhos. Minha mãe comprava um pão de 500 mg, com dois bicos. Mas nós brigávamos pelos bicos mesmo assim. Vejam só que duas crianças mesquinhas e egoístas! Mamãe se estressava com a gente, dava umas lambadas e nos colocava no quarto escuro, de castigo. Tínhamos de ficar em pé, abraçados, um dizendo para o outro, alternadamente:
- Te amo maninho!
- Te amo maninha!
- Te amo maninho!
- Te amo maninha!

E ficávamos assim, geralmente, por uns trinta, quarenta minutos. E ai de nós se a mãe não escutasse o "Te amo maninho, te amo maninha" ou se, ao abrir a porta, a gente não estivesse em pé e abraçados. A surra tinha segundo tempo! E ela não deixava a gente mais tempo de castigo porque porque se enchia de nos ouvir, não porque tivesse pena. Minha mãe era uma bandida!

Já meu pai só dava surras em mim.
- Filho homem tem de apanhar para aprender a ser homem. Em filha mulher, pai não bate.

Puxa vida, eu não tinha esses arreglos da minha mãe. O pai só deu um tapa na minha irmã. Uma vez, só. Ela "desacatou" ele. O pai era brigadiano. Ela tinha uns 14 anos, já estava no segunda grau, já tinha peito, começou a se achar gente, ter opinião própria e discutia com a pai. Eu não discutia com ele, pois era lanho certo no meu lombo. Mas ela discutia. Até que, naquele dia, além de discutir, mandou ele longe. Passou dos limites. A corda arrebentou. Ele se levantou e foi bufando em sua direção, que estava na porta do quarto, desafiadora. Eu, do sofá, onde via TV junto com a mãe, fiquei torcendo, por dentro:
"Vai apanhar, vai apanhar, vai apanhar" - a minha irmã em vias de ser disciplinada e eu liberando anos de recalque, numa alegria pequena e vil.

CATABUMFA! - estrondou a mão pesada do pai no rosto de minha irmã. Puxa vida, que paulada! No mesmo momento fiquei chocado. Minha mãe ficou chocada. Meu pai ficou em choque. Minha irmã ficou fora do ar. Assim que o tico e teco pararam de quicar dentro de sua cabeça, ela começou a chorar, histérica. Mas não falou mais nada pro pai, que veio e sentou na sofá, quieto. Eu fiquei olhando para a TV sem piscar. Vai quê, né? Meu pai nunca mais bateu na minha irmã e ela nunca mais bateu boca com ele. Eu continuei levando minhas surras, de vez em quando.

Ninguém se odeia lá em casa. Eu nunca apanhei sem merecer. Minha irmã só levava laço da mãe. Comigo a coisa era democrática, todo mundo batia no Joãozinho, snif snif snif. Hoje minha mãe anda de muleta e eu me vingo:
- Daí velha perneta, anda mais rápido, múmia. Vou colocar umas rodinhas nessas muletas pra ver se tu se mexe!
Uma vizinha olha pra mim com horror quando a gente vai no armazém em frenta a casa deles. Eu olho e digo:
- Tá com pena? Leva pra ti então essa tartaruga.

Ela fica mais horrorizada ainda. Minha mãe dá risada. Velha bandida, nunca teve coração, mas sempre teve bom humor. E seguido comprava um pão só pra mim, pra eu comer os dois bicos com café com leite e ovo, sozinho. Esses arreglos minha irmã não tinha, só o "Dondinho", eh eh eh eh eh.
 
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 12/02/2017
Alterado em 14/02/2017
Comentários