João Adolfo Guerreiro
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Domingo de Ramos

Na Semana Santa os dias mais importantes são a Sexta-Feira Santa, quando ocorreu a Paixão de Cristo, e o Domingo de Páscoa, o da sua Ressurreição. Ao entrar no domingo anterior na cidade de Jerusalém, dias antes da comemoração da Páscoa judaica, no ano 30 DC (*1), Jesus, o humilde judeu filho de carpinteiro da pequena cidade de Nazaré, situada na região da Galiléia, na periferia de Israel, foi aclamado pelo povo como o esperado messias do qual os antigos profetas falavam: eis o Domingo de Ramos.

Israel, à época sob domínio romano, além da Galiléia, ao norte, era formada ainda pela Samaria, ao centro, e pela Judéia, ao sul, este último o seu “centro” cultural e religioso, onde a capital Jerusalém se localiza até hoje. Para esses judeus do sul, os galileus eram ignorantes e os samaritanos impuros, pois se misturavam com outros povos (*2), adotando alguns de seus costumes. No ano de 30, a Páscoa dos judeus, que remete à comemoração pela saída do Egito (que podemos ler no livro do Êxodo, no Antigo Testamento) e onde se come o “cordeiro pascal”, ocorreu num sábado, 8 de abril, pelo calendário cristão.

Jesus de Nazaré não deixou nada escrito, sua pregação foi oral e registrada posteriormente nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Os três primeiros, chamados sinóticos, guardam grande simetria entre si, enquanto o de João é um texto à parte destes, embora aborde, igualmente, a vida e a palavra de Jesus. Mas todos eles convergem ao relatar que o Domingo de Ramos marca a entrada de Jesus em Jerusalém e sua calorosa recepção pelos peregrinos que para lá haviam se deslocado e que, nas festividades, aumentavam para cerca de 180 mil pessoas a população da cidade, que girava em torno de 25 a 30 mil habitantes.

No Evangelho de João, o povo recebe Jesus com “ramos de palmeira” e este, “encontrando um jumentinho, montou nele”. Já no relato dos sinóticos Jesus pede que os apóstolos entrem na cidade e busquem para ele o jumento, que está num local determinado, sendo essa a simetria perfeita encontrada em seus textos sobre a data. A partir daí, começam a aparecer pequenas divergências.

Mateus informa que a “multidão estendeu suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam os ramos das árvores”, no que é acompanhado por Marcos. Lucas é o único que não menciona os ramos. Por outro lado, Lucas vai de encontro à Mateus ao relatar que a expulsão dos vendilhões do templo ocorreu nesse mesmo dia, enquanto Marcos menciona o fato na manhã seguinte, já na segunda-feira.

Essas pequenas diferenças, afirmam alguns exegetas, estão ligadas principalmente à tradição oral em que se baseiam os evangelhos, dentre outras causas. Mas elas não maculam a força dos escritos sagrados no que tange à importância dos fatos relatados, onde uma doutrina religiosa ao mesmo tempo amorosa e firme entra em contato com o principal centro urbano do país onde floresceu, chocando-se com as velhas estruturas sociais e religiosas e precipitando os acontecimentos que se darão na quinta e na sexta-feira daquela Páscoa.

Jesus, de fato, se tornou o personagem mais importante do Ocidente, como pregador de uma fé que tanto superou a perseguição implacável e violenta do poder político e religioso de então quanto passou incólume à corrosão implacável do tempo e das mudanças histórico-sociais, alcançando corações e mentes no presente. Uma boa ceia para todos amanhã e um feliz Domingo de Páscoa.

(*1) – Bíblia de Jerusalém, editora Paulus, 2002, p. 2183.
(*2) – Nova Bíblia Pastoral, editora Paulus, 2014, p. 1177


Texto publicado na seção de Opinião do Jornal Portal de Notíciashttp://www.portaldenoticias.com.br
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 01/04/2015
Alterado em 03/04/2015
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