João Adolfo Guerreiro
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Foto: Joe Cocker em Woodstock. Eu sempre desejei ter uma camisa como esta, igual a dele, mas, pelo processo artesanal em que são produzidas, uma camisa é sempre única, uma nunca fica igual à outra.



Paz e amor, Joe


Pouco antes da virada do ano, dia 22 de dezembro, morreu Joe Cocker, um dos artistas símbolo da geração hippie e do Festival de Woodstock. Sua conhecidíssima interpretação da canção With a Little Help from my Friends (dos Beatles, cantada originalmente pelo baterista Ringo Star) no festival, em agosto de 1969, é um dos momentos marcantes da cultura pop do século XX. E a gente que é, um pouco, formado no legado cultural riponga, fica reflexivo e nostálgico numa hora dessas...

Começando pela figura de Joe e por sua passagem por esse plano físico, é certa a lembrança dos anos 1960, tanto para quem neles viveu ou que neles nasceu e, assim, percebeu seus ecos na década de 1970, como o gesto característico dos hippies, com os dedos indicador e médio erguidos em forma de V, sempre acompanhado do bordão “Paz e amor, bicho”, que ainda era comum à época.

E o movimento hippie, originado na juventude de classe média da cidade estadunidense de São Francisco, legou muito para o mundo ocidental de hoje. Daria para escrever tanta coisa sobre isso, mas, por hora, vejamos, por exemplo, o que diz sobre eles o sociólogo italiano Domenico de Masi no seu mais recente livro [NR: que traz o Brasil como modelo a ser seguido], O Futuro Chegou: “Do movimento hippie restam apenas adeptos dispersos em várias partes do mundo, mas com os hippies o mundo mudou: (...) Hoje somos mais livres para nos manifestarmos; graças à sua liberdade sexual, hoje os casais não casados e os homossexuais não são mais desaprovados; graças à sua tolerância, a diversidade religiosa e cultural é mais respeitada; graças à sua convivialidade, a vida de grupo, a cooperação, as comunidades tornaram-se noções comuns; graças à sua medicina alternativa e à sua cozinha vegetariana, hoje se é mais atento à qualidade dos alimentos e à saúde do corpo; graças às suas vestimentas excêntricas, hoje cada um de nós se sente livre para vestir como achar melhor; graças às suas reuniões, difundiram-se no mundo aquelas ‘universidades invisíveis’ que são os festivais”.

Assim, se percebe que os movimentos da chamada “contracultura”, mesmo deixando sua influência, foram absorvidos pelo sistema, principalmente pela indústria cultural na música, tornando a venda de discos um negócio de grandes lucros. Os artistas que não morreram de overdose (Hendrix, Joplin, dentre outros), viraram estrelas do mundo pop, como foi o caso de Joe. O desenhista Robert Crumb, cujas histórias em quadrinhos marcaram os anos 1960 e a contracultura, é crítico sobre isso, citando jocosamente seu próprio caso no livro em formato HQ Minha Vida: “Agora sentado aqui, em minha suntuosa biblioteca, bem sucedido, na meia idade e com a vida estável, contemplo com carinho os dias tresloucados de minha juventude. Sim, eu me lembro... Eu me lembro – eu – putz, como queria lembrar! Fiquei tão sequelado com todas aquelas drogas...”

Nessa época de verão, quando vamos à praia, podemos perceber essa contradição que os hippies viveram, numa passagem citada por Crumb: quando estamos voltados para o mar, nos sentimos integrado à natureza; ao nos voltarmos para a areia, vemos o sistema concretizado nesses edifícios que avançam sobre a orla.

Para entender melhor essa época, é básico ver o clássico filme documentário do Festival de Woodstock, que tem em qualquer locadora: está tudo lá. Outro bom filme que encarna bem o espírito da coisa nos dias atuais é uma produção brasileira e uruguaia de 2010, Além da Estrada, do diretor Charly Braun. Paz e amor!







Texto publicado na seção de opoinião do jornal Portal de Notíciashttp://www.portaldenoticias.com.br
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 06/01/2015
Alterado em 07/01/2015
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