João Adolfo Guerreiro
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Brasil x Alemanha

É amanhã, às 17 horas. É só um jogo, mas não é apenas um jogo; é só futebol, mas não é apenas futebol; é negócio, mas não é apenas negócio; é política, mas não é apenas política; é uma semifinal de copa do mundo, mas não é apenas uma semifinal de copa do mundo. É Brasil x Alemanha, semifinal da Copa do Mundo do Brasil de 2014, no Estádio Mineirão.

O futebol se elitizou. Na Copa 2014, a elite social é que vai aos estádios. Em 1950, na fatídica final Brasil 1x2 Uruguai, quase 200 mil pessoas superlotaram um Maracanã ainda em obras. Agora, no mesmo estádio, 79.000 pessoas assistirão a final dia 13. Em 1950, éramos 52 milhões de brasileiros, hoje, somos 202 milhões. As arquibancadas diminuem, a população aumenta: indicador da elitização, num país que passou de um PIB per capita de US$ 920/ano (1950) pra US$ 11.800/ano (2014). Os estádios, de templos, passaram a palácios do futebol.

Se a Alemanha vencer amanhã, confirmando seu favoritismo, vai ter escrito uma página grandiosa na história de seu futebol, ao eliminar a grande Seleção Brasileira na Copa realizada no Brasil. Essa Seleção Alemã vem se formando desde as copas de 2006 e 2010, um time fortíssimo. É a quarta semifinal consecutiva da Alemanha, desde a Copa de 2002.

Se o Brasil vencer, terá dado somente mais um passo em busca do título perdido de 1950; se perder, uma nova tragédia. Após 64 anos do “maracanazo”, o Brasil ainda busca o sonho de uma revanche contra a sua própria história. Uma equipe esgualepada, sem o seu capitão e sem seu grande craque, um rapaz de apenas 22 anos portador de um talento raro e descomunal, abatido, pelas costas, pela joelhada vil e algoz de um colombiano que entrará para história do futebol somente por esse feito sem honra do antifutebol (paradoxalmente, não punido pelo árbitro e pela Fifa), mas efetivo em suas intenções, tal como um motorista bêbado em alta velocidade pelos gramados cometendo homicídio culposo.

(Por outro lado, no mesmo período e na mesma cidade em que o jogo de amanhã acontecerá, um viaduto desabou, matando dois brasileiros. E nenhum joelho colombiano teve culpa. Dois brasileiros morrem em um “acidente” (?) de trânsito, um brasileiro machuca a coluna em um acidente de trabalho. O craque, prontamente atendido após o acidente de trabalho, fez todos os exames necessários e todo o aparato da medicina esteve ao seu dispor Fatos díspares do pais do futebol acontecidos durante a Copa, que revelam muito do tempo e da sociedade em que ela acontece.)

Brasil X Alemanha. Para o brasileiro, futebol é sinônimo de pertencimento, de identidade, de amor próprio. No futebol, o Brasil é o maior, é a grande potência. A Alemanha é uma grande potência, a maior economia da Europa, a quarta maior do planeta. Para ela, o futebol é uma paixão, tão somente. No Brasil, é paixão nacional e muito mais. Mais que jogo, mais que futebol, mais que negócio, mais que política. Futebol é a principal característica da brasilidade, onde Pelé é o ícone maior.

Essa Copa é um grande aprendizado nacional. O Brasil não é o mesmo de 1950. Evoluiu muito, é uma das maiores economias do mundo. O futebol e o carnaval não sustentam mais todas as aspirações dos brasileiros. O brasileiro quer mais. Junho de 2013 foi um recado inequívoco para todas as estruturas antigas da sociedade, dos governos à grande imprensa. O brasileiro questiona os estádios e a Copa, o brasileiro quer mais hospitais.

Mas amanhã tem Brasil x Alemanha e o país vai parar para ver essa partida. Pois, para o Brasil, não é só jogo, só futebol, só negócio e tampouco só política. Não entender isso é não entender a alma do brasileiro, é subestimar a capacidade de discernimento do povo. O país do futebol ainda é o país do futebol, por isso vai torcer muito amanhã e vai sorrir ou vai chorar, mesmo que o resultado, seja qual for, não vá mudar a vida das pessoas. O Brasil vai aprender com a Copa e vai seguir o seu caminho, espantando os fantasmas de 1950. Todos eles, não apenas os do futebol. Não ver isso é ser cego. O povo brasileiro já enxerga longe.

Texto publicado na seçao de Opinião do Jornal Portal de Notíciashttp://www.portaldenoticias.com.br


 
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 07/07/2014
Alterado em 07/07/2014
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