João Adolfo Guerreiro
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Pontes, trabalhadores e trânsito

“O meu tempo voa e eu vôo pra ganhar, um quarto de hora que eu nem sei nem como usar”. Pensando sobre esses acidentes envolvendo jovens trabalhadores de nossa cidade, que aconteceram na semana anterior ao 1º de Maio, veio-me esse trecho da canção “Freeway?!”, de Jorge Herrmann, que consta no CD FIM (1999). O trabalho, o trânsito, o tempo que é dinheiro e a velocidade; a juventude e as estatísticas sociais.

No dia 30 de abril um jovem de 24 anos, Yuri, num acidente ao mesmo tempo trágico e inusitado (com ampla repercussão na mídia estadual), passou pela contramão com seu carro pelo vão levantado da ponte do Guaíba, em Porto Alegre, e mergulhou no rio; pouco antes, dia 26, uma colisão frontal vitimou outro jovem, Roberto, de 25 anos, na ponte sobre o Arroio dos Ratos. Dois jovens charqueadenses, dois trabalhadores que labutavam próximos, respectivamente na Iesa e na Jacuí I. Esses fatos, para além das irreparáveis perdas pessoais e familiares, são fenômenos inseridos no contexto social e no tempo histórico em que vivemos. Vale, a propósito, acrescentar outro fato: dia 24, nas proximidades da ponte de General Câmara, um agricultor de 54 anos, residente em Rio Pardo, capotou seu veículo, vindo a óbito.

Num artigo que publiquei aqui no Portal em outubro do ano passado, “As tragédias sob as estatísticas”, já havia chamado a atenção para isso, ao abordar o acidente envolvendo o jovem charqueadense Douglas: “Verificando as estatísticas de 2011 do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) do Ministério da Justiça [...]. Com base nos dados fornecidos pela Polícia Rodoviária Federal e colhidos em rodovias federais sob jurisdição do DNIT, vemos que no Rio Grande do Sul a maior parte de vítimas envolve homens na faixa dos 23 aos 28 anos: 734, com 35 óbitos. Homens e mulheres nessa faixa correspondem a 976 vítimas num total geral de 7.929 (de 18 a 33 anos, são 2.760 com 137 óbitos). No Brasil a proporção é a mesma [...]”.

“Quanto ao tipo de veículo, outra triste constatação: no RS, 1.828 das 7.929 vítimas são motociclistas; no Brasil, são 28.466 motociclistas do total de 129.202 vítimas. Logo, fica claro que motociclistas do sexo masculino entre 23 e 28 anos são as maiores vítimas em potencial da loucura do nosso trânsito [...]. Pessoas de verdade, de carne, osso e nervos, a força vital da nossa sociedade, o futuro do nosso país, os jovens de nossas comunidades, a alegria e o amor de suas famílias”.

Nos acidentes recentemente ocorridos, pontos em comum: ambos pela manhã, em cima de pontes e envolvendo situações de trabalho. Logo, o trânsito e o trabalho, o horário a cumprir e a velocidade, os locais perigosos (devidamente sinalizados?) e a juventude. Um somatório de fatores que, vistos dessa maneira, não parecem acaso, mas sim circunstâncias, eis que estatísticas indeléveis de nosso contexto social e de nosso tempo histórico.

Dois jovens trabalhadores mortos em acidentes às vésperas do Dia do Trabalhador. Duas enormes perdas pessoais, familiares e sociais, assim como a do vigilante Ivo, colega de Roberto, vitimado no mesmo acidente. Um triste feriado para a comunidade de Charqueadas.

“As pessoas que amamos não morrem, apenas partem antes de nós" – frase que encontrei no Facebook da amiga Andréia Collares. Meus sinceros pêsames aos familiares, amigos e colegas desses trabalhadores.


Artigo publicado na seção de Opoinião do jornal Portal de Notíciashttp://www.portaldenoticias.com.br

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 12/05/2014
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