João Adolfo Guerreiro
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Páscoa: peixe, coelho e chocolate. E Cristo?
 
O Brasil, segundo os dados de 2010 do IBGE, possui 86.8% de cristãos, sendo 64.6% de católicos e 22.2% de evangélicos. E vejam que nesses índices não são considerados o Espiritismo Kardecista e a Umbanda, que são grupos religiosos sincréticos com o cristianismo, e tampouco outras denominações cristãs como as Testemunhas de Jeová e os Mórmons. Assim, a Páscoa e a Semana Santa são feriados importantes em nosso país, pois se referem à tradição religiosa cristã, celebrando a Paixão de Cristo.
 
Entretanto, quando olhamos em volta nessa época, o que nos salta aos olhos? As feiras de peixe para a Sexta-Feira Santa e os ovos de chocolate para o Domingo de Páscoa, além da onipresença do Coelhinho em anúncios publicitários nas mais variadas mídias.
 
Assim como o Papai Noel e os seus presentes no Natal, na Páscoa o anexo ganha mais importância que o livro e o confeito mais destaque que o bolo, que são, respectivamente, o nascimento e a morte de Jesus Cristo. E isso gera um boom comercial, o que leva a paradoxal conclusão de que deu$ é mais louvado do que Deus nesses feriados religiosos.
 
Na origem da Páscoa, temos o povo judeu escravizado no Egito. No relato do Êxodo, no Antigo Testamento, Moisés recebe instruções precisas de Deus: comer pães ázimos (sem fermento) e um cordeiro ou cabrito, espalhando pelo marco da porta de cada casa o sangue do animal. Assim, quando o Anjo do Senhor viesse “levar” todo o primogênito do Egito, veria o sinal nas casas do povo eleito e passaria reto. Dito e feito. E o Faraó, depois dessa, deu finalmente a liberdade aos judeus. Mesmo que depois tenha ido atrás deles no Mar Vermelho...
 
No sentido que damos à Páscoa no Brasil, descrito nos evangelhos do Novo Testamento, está o da crucificação e ressurreição de Jesus em Jerusalém, ocorrida justamente durante essa comemoração do povo judeu, agora sob o domínio romano. Na última ceia, hoje denominada “Santa Ceia”, Jesus ofereceu pão e vinho aos seus doze apóstolos.
 
Logo, não ouvimos falar de peixe, coelho e chocolate em nenhuma referência bíblica sobre a Páscoa, mesmo o primeiro sendo um alimento comum daquele período e os apóstolos sendo pescadores. Esses símbolos foram agregados com o tempo. O peixe virou uma alternativa à abstinência de carne na Sexta-Feira Santa, entendida como penitência. Assim surgiu a tradição do peixe na Semana Santa. E o seu comércio.
 
Numa esclarecedora entrevista ao jornal Zero Hora em abril de 2005, o arcebispo de Porto Alegre dom Dadeus Grings esclareceu a questão: O peixe sempre foi uma coisa livre, mas acabou virando hábito fazer um banquete de peixe, que era exatamente o contrário do que se queria, uma coisa mais sóbria. O sentido se perdeu. Essa foi uma das razões de sugerirmos outros tipos de penitência. O mundo e os costumes mudaram. Antigamente, comer e beber estavam entre as maiores satisfações, então se fazia abstinência nessa área. Agora há outras diversões, e é nelas que deve estar a penitência.”
 
Nada contra peixes, coelhos e os ovos de chocolate, mas assim como os acessórios não são mais importantes que a roupa, apenas a destacam, algumas simbologias agregadas à Páscoa não deveriam sobrepujar seu sentido primeiro, ou seja, a vida, o exemplo e a palavra de Jesus Cristo. “Jesus perguntou: ’De quem é a figura e a inscrição que está nessa moeda?’ Eles responderam: ‘É de César.’ Então Jesus disse: ‘Pois devolvam a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.’ E eles ficaram admirados com Jesus” (Marcos, 12-17)


Texto publicado na editoria de Opinião do Jornal Portal de Notícias.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 08/04/2013
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