João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
“Esses moços, pobres moços” gremistas...

Essa grande parte da torcida gremista que tem de 12 a 20 anos, nascidos na década de 90, está indignada com o Grêmio. “Nadamos, nadamos e morrermos na praia”, dizem, usando o dito popular.
“Ah, se soubessem o que eu sei...”.

Essa juventude azul, preta e branca era muito jovem quando o time de Felipão brilhou lá por 1995. Só viu bem a Copa do Brasil de 2001. Daí pra frente, comemoraram somente alguns títulos gaúchos (campeonato que eu adoro vencer!) e o título da segunda divisão, em 2005, na épica e inacreditável “Batalha dos Aflitos”. Viram o Grêmio ser vice da Libertadores (2007), vice do Brasileiro (2008), chegar as semifinais de duas Libertadores, e, nesse ano, ganhar o Grenal dos 100 Anos (uma coisa que eu muito esperei e aproveitei cada dia, hora e minuto antes, durante e depois).
Então ficam frustrados por seu time não ganhar títulos importantes. Inundam o Orkut com esse pensamento. Não estão de todo errados, mas não estão certos também. A vida e o futebol são mais que isso.
Eu virei gremista lá pelo final de 1976, com 9 anos. Que época... tinhosa pra ser gremista! O Inter naquela grande fase. Bi campeão brasileiro, octa campeão gaúcho. E o Grêmio... nada! Acreditem guris, isso é que era desgraça. Você mal e o seu rival nos píncaros da glória! Desgraça pouca é bobagem!
Em 1977 o Grêmio foi campeão gaúcho sobre o Inter numa final, foi aquela loucura, anos de recalque liberados! Mas depois o Inter recuperou a hegemonia regional e, ainda por cima, foi tri campeão invicto do Brasil em 1979. E o Grêmio sem nenhum título nacional. Mas bah tchê, tínhamos naqueles tempos mais complexo de inferioridade do que o anãozinho que seria ser astro de basquete na NBA.
Só fomos aprender a lidar com esses traumas em 1981, ao sermos campeões do Brasil. E só fomos superar tudo e começar a olhar os colorados com arrogância e superioridade (devolvendo-lhes na mesma moeda!) em 1983, quando conquistamos a América e o Mundo, títulos inéditos a um clube gaúcho e, em se tratando de mundial, só Santos e Flamengo possuíam.
Depois ainda veio o time do Felipão nos anos 90, o Bi nacional, o Bi da Libertadores, o vice mundial em Tóquio. Porisso que mais de 60% dessa gurizada gaúcha de hoje em dia torce pro Grêmio.

Nesse ponto lembro do filme do Ridley Scott, “Um bom ano”, onde Russel Crowe interpreta um vendedor de títulos financeiros em Londres muito bem sucedido e que vai pra França ver um vinhedo que ganhou de herança de seu falecido avô, local onde passou com o mesmo bons momentos na infância. Lá começa a ver o ritmo da sua vida urbana e financeira em confronto com aquele cotidiano rural. Se apaixona por uma gata muito tri que mora naquela pequena cidade. No final do filme resolve ficar por lá, vivendo do vinho, da grana acumulada, amando sua gata muito tri. Em suma, descobre viver não é só vender títulos, não só a agitação e stress da cidade e da bolsa de valores. Tem outra vida além disso.
Gurizada, repito: desgraça pouca é bobagem. E nós gremistas somos agraciados, pois até da desgraça (a segundona) conseguimos fazer épico! E passamos a receita adiante, vide o Corinthians.
Ruim era ser gremista nos anos 70. Ou nos anos 40, quando o Inter tinha o tal rolo compressor e só goleava o Grêmio, coisas tipo 7x1, 7x0. Creio que os jovens tricolores ficaram muito abalados pelo Inter ter conseguido escalar a América e o Mundo em 2006. Nada a ver, nós, antes deles, já tínhamos ido, voltado e ido de novo. Grêmio, “nada pode ser maior!”.
Ruim pra mim é sofrer com time no cai-não-cai pra segunda divisão. O Grêmio de hoje me alegra muito, está disputando as cabeças, não ganha títulos mas, como viu o Crowe, títulos não são tudo na vida. Viver na boa é tudo e, quem vive na boa, numa hora acha uma mina tri, ganha um título tri, sacaram?
Pra mim tá dando gosto torcer pelo Grêmio nos últimos anos. Um clube grande, disputando grandes títulos nacionais e internacionais. Pra mim este tem sido “Um Bom Ano”, pois chegamos numa semi-final de Libertadores, estamos aí invictos no Olímpico há mais de um ano, vencemos o Grenal dos 100 anos, ainda estamos disputando vaga pra Libertadores. Até pude ir ver um show do Oasis em Porto Alegre e, lembro bem, foi num tópico da comunidade do Grêmio que vi a notícia pela primeira vez.
“Ah, esses moços, pobres moços, se soubessem o que eu sei...” cantou o Lupicínio Rodrigues numa de suas composições mais famosas. Lupicínio, que escreveu a canção que agora é o nosso hino num dia em que faltou bonde pro pessoal ir pro Olímpico: “Até a pé nós iremos, pra o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos, com o Grêmio onde o Grêmio estiver”. Viram, desgraça pouca é bobagem.


João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 08/11/2009
Alterado em 08/11/2009
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