João Adolfo Guerreiro
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Textos

Ventos uivantes, pulmões frágeis

Emiliy Brontë (1818-48), escritora inglesa da qual hoje se comemora 200 anos de nascimento, escreveu apenas um romance durante sua breve vida. Não precisou de mais para entrar para a história da literatura mundial e estender sua influência por todo o século XX e ainda manter vitalidade no XXI. Uau!

Nasceu em 30 de julho de 1818 em Yorkshire, província rural ao norte da Inglaterra, a penúltima dos seis filhos do reverendo Patrick Brontë (1777 - 1861) e de Maria Branwell (1783 - 1821). Sua biografia, nesse ponto, guarda semelhanças com outro grande nome feminino das letras britânicas que, ano passado, marcou os 200 anos de seu falecimento: Jane Austen (1775 - 1817). Filha de um pároco, morreu aos 41 anos e também nunca se casou. Outra que até hoje mantém influência: a novela da Globo das 18 horas, por exemplo, é baseada em seu livro Orgulho e Preconceito (1813). 

Brontë foi criada e educada em casa, junto de suas cinco irmãs e um irmão. O talento precoce para a literatura e a tragédia foram duas marcas dessa familia. A mãe morreu de câncer aos 38 anos e suas duas irmãs mais velhas ainda na infância, de tuberculose, espectro algoz que não daria trégua aos Brontë nos anos seguintes.

O fato é que os irmãos restantes inventavam histórias sobre reinos fictícios como diversão. Ao crescerem, investiram na literatura: em 1846 Emily, Charlotte (1816 - 1855) e Anne (1820 - 1849) lançam, juntas, um livro de poesias, assinando-o com os pseudônimos de Ellis, Currer e Acton Bell, respectivamente. A obra vende muito pouco, mas recebe algumas críticas positivas, principalmente sobre os poemas de Emily. Isso as motiva a produzirem textos em prosa.

A primeira a alcançar grande sucesso literário é Charlotte, com o seu primeiro romance, Jane Eyre, em outubro de 1847, texto que  questiona o papel da mulher na sociedade vitoriana através de sua pernonagem principal. Na carona de Jane Eyre a editora resolve publicar, em dezembro do mesmo ano, O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights), de Emily, e Agnes Grey, de Anne, igualmente bem aceitos, mesmo não obtendo a mesma repercussão do primeiro.

Como disse o escritor Rodrigo Lacerda em seu texto introdutório a edição comentada da editora Zahar de O Morro Dos Ventos Uivantes, em 2016, "não é comum haver, na mesma família, grande concentração de talentos literários. Ainda mais raro, sobretudo na Inglaterra do século XIX, achar três irmãs escritoras. A raridade vira quase milagre quando as três são ótimas no que fazem".

Mas, felizes na literatura, infelizes na saúde. Seu irmão Patrick Branwell (1817 - 1848), pintor e escritor, adoece e morre tuberculoso em 24 de setembro do ano seguinte. Em 19 de dezembro, aos 30 anos, é a vez de Emily sucumir à tuberculose, doença que também levará Anne em 28 de maio de 1849. Num período de apenas oito meses, restaram apenas Charlotte e seu pai na família Brontë.

Emily, assim, não pode ver o enorme sucesso que seu livro obteria nas décadas e séculos vindouros, suplantando o de qualquer obra individual de suas irmãs. Em 1001 Livros para Ler Antes de Morrer (Sextante, 2010), o professor de literatura comparada Seb Franklin define o romance como "uma história de amor completamente psicótica", que "se destaca como a expressão mais violenta já escrita do resultado do ascetismo e isolamento extremos". Concordo com ele, quem já leu a obra sabe que ela é visceral, criada por uma jovem escritora que só poderia ser classificada como uma força da natureza, como se diz.

A personagem central é Heathcliff, que vive um amor conturbado com sua irmã de criação Catherine Earnshaw em triângulo amoroso com Edgar Linton. Mais não conto, eis que muita gente com menos de trinta anos não conhece a história e seria um crime cometer spoilers aqui.

O Morro dos Ventos Uivantes já foi filmado diversas vezes, publicado em váriás línguas e serviu de inspiração para a famosa canção homônima Wuthering Heights (1978), da cantora e compositora inglesa Kate Bush (apadrinhada no início da carreira por David Gilmour, do Pink Floyd), já gravada por gente como a banda brasileira de metal Angra, Tarja Turunen (Nightwish), Pat Benatar e John Lord (Deep Purple). Seguido é interpretada por cantores nesses progamas de talentos pelo mundo, visto que exige bastante de seus intérpretes.

A única imagem confirmada de Emily Brontë é a que está acima, um quadro feito por seu irmão Patrick. Ela está no centro, com Anne à sua esquerda e Charlotte à direita. O último dos Brontë a morrer foi o reverendo Patrick, aos 84 anos, após enterrar toda a família. Era o único com pulmões fortes em sua casa.
 

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 30/07/2018
Alterado em 11/09/2023
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