João Adolfo Guerreiro
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Foto - Leandro de Souza Silva

Charqueadas, 36 anos


 
1 - Na segunda-feira passada, a convite da professora Samantha Belzareno, estive na Escola Municipal Artur Dornelles (1984), no Bairro Santo Antônio, com o fim de realizar bate-papo com alunos da escola sobre o aniversário de Charqueadas, comemorado neste feriado municipal de 28 de março. Foi a partir desse encontro, do que conversamos nele, que resolvi escrever essa crônica em homenagem aos 36 anos do município.

No bate-papo, baseei-me em minha experiência pessoal como “nascido e criado” na cidade e em artigo que publiquei aqui no Portal de Notícias em 27 de março de 2015, intitulado “Charqueadas, 33 anos”.

 
2 - Objetivando ressaltar alguns contrastes entre a Charqueadas de ontem e a de hoje, inicialmente me apresentei como “100% charqueadense”, eis que nasci no bairro vizinho, a Colônia, em casa, por parto natural realizado pela parteira Gessy Quadros. Obviamente a quase totalidade dos alunos presentes nascera nos hospitais de São Jerônimo e Porto Alegre. Embora, como nos dias atuais, não existisse hospital aqui naquele tempo, havia as parteiras e, assim, esse que vos escreve pôde literalmente nascer nesse chão, próximo ao Rio Jacuí, numa noite de inverno. Desta forma, um primeiro contraste entre o presente e o passado: as parteiras, importante atividade social hoje inexistente. Outras diferenças foram constatadas ao longo do encontro.

A relação dos jovens residentes nas vilas periféricas, distantes de três a cinco quilômetros do centro, mudou para com “a Charqueadas”. Nas décadas de 1960/70 os moradores da Colônia, por exemplo, percebiam-se como um núcleo urbano separado, quase como uma outra cidade. Agora, os jovens da Santo Antônio se sentem plenamente integrados à cidade, de acordo com o que os estudantes manifestaram.

Dá-se o inverso no tocante a interação com o rio. Enquanto minha geração passava inteiramente as férias escolares de verão banhando-se no Jacuí, no presente apenas dois alunos disseram já o terem atravessado até a outra margem e a maioria afirmou que não tem por hábito ir até o rio. Logo, comprova-se, cada vez mais, uma realidade: a cidade surgiu em função do rio, mas se encontra de costas para o mesmo, afastando-se cada vez mais em direção a ERS 401.

 
3 – A seguir, passamos para o primeiro ciclo econômico de Charqueadas, o do charque bovino. Destaquei o nome do coronel José Manuel de Leão (1788 – 1836). Diz-se que sua charqueada, situada na confluência do Jacuí com o Arroio dos Ratos, deu origem ao nome da cidade. Leão foi um farroupilha de primeira hora, morto em combate na sua propriedade charqueadora. Pudera: era o terceiro nome na lista do governo imperial! Todavia, não há entidade tradicionalista, escola, praça, avenida ou rua que leve o seu nome em Charqueadas. Saldino Pires (1944), em seu livro de 1986, dedica-lhe um capítulo. Cabe, a propósito, apontar uma informação controversa que seguidamente é incluída em sua biografia, ou seja, de que teria sido pai do dramaturgo triunfense Qorpo Santo (1829 – 1883). O genealogista Diego de Leão Pufal (1979) realizou pesquisa por meio da qual concluiu ser o poeta oriundo de outra família Leão igualmente residente em Triunfo, onde o coronel possuía casa. Em artigo publicado no Portal de Notícias em 23 de setembro de 2016, “Qorpo Santo: detalhes de suas origens”, Pufal apresenta os detalhes de seu estudo.

Um outro nome do período, ligado ao final da também denominada indústria saladeril, o senador Ramiro Fortes de Barcellos (1851 – 1916). foi abordado. Esse é nome de escola, de CTG e de rua! Proprietário da charqueada Meridional (1906), que tinha como sede o enorme Solar dos Barcellos, conhecido como Casarão da Colônia (lamentavelmente demolido na década de 1980), por se localizar onde atualmente fica o bairro já citado. Figura famosa na política estadual, era também escritor, autor do clássico da literatura gaúcha Antônio Chimango (1915), onde satiriza o líder republicano Borges de Medeiros (1863 – 1961). Um fato curioso ligado ao senador na cidade aconteceu em 2016 quando, em 29 de janeiro, exatamente nos 100 anos de sua morte, o CTG Ramiro Barcelos desabou numa noite de temporal.

 
4 – Aqui atingimos o ciclo do carvão. Sem apresentar nomes, falamos sobre o Porto das Minas (1882 – 1956, tempo em que o mineral era transportado via trem de Arroio dos Ratos e embarcado em chatas no Jacuí) e o Poço Otávio Reis (1956 - 1996), com seus trezentos metros de profundidade. E como os ciclos do carvão e do aço foram, por alguns anos, concomitantes, visto a siderúrgica Aços finos Piratini (atual Gerdau) ser inaugurada em 1973, passamos para a emancipação de Charqueadas, em virtude de seu desfecho se dar na década imediatamente posterior, destacando alguns nomes que julgamos importantes na história do município.

O primeiro foi o de José Manoel Gonzales de Souza (1949 – 1998), jovem charqueadense eleito prefeito de São Jerônimo em 1976. Na sequência o movimento emancipacionista ganhou força, sob a liderança do comerciante Silmar Berbigier (1931 – 1990). Dentre os vários integrantes desse movimento, optamos por lembrar os do comerciante Anápio Ferreira (1944) e do líder sindical dos mineiros Aldo “Baratão” Moreira (1934 – 2014), respectivamente primeiro (1983 – 88) e segundo (1989 – 1992) prefeito do Município (José Manoel, 1993 – 96, foi o terceiro). Em 28 de março de 1982 ocorreu o plebiscito onde os leitores domiciliados em Charqueadas votaram maciçamente no “sim” para sua emancipação política.

 
5 - Como recém havia finalizado a Gincana Cultural de Charqueadas, o bate-papo fatalmente foi em sua direção. Um nome, aqui, não poderia ser esquecido: João Alberto “Turbina” de Paula (1959), funcionário público municipal lotado na Secretaria da Cultura. Turbina está aposentado, mas teve papel fundamental na consolidação da Gincana, que iniciou em 1987, como presidente e sua comissão organizadora durantes muitos anos. A primeira campeã do evento foi a ABC. Nesse ano, detalhe interessante, participou uma equipe formada por evangélicos, a Israel.

 
6 – Conversamos sobre mais coisas durante o bate-papo e, de tudo que citei acima, tive de omitir muitos detalhes para não tornar esse “textão” mais longo do que já está. Um último assunto sobre o qual falamos e que eu quero registrar aqui é de como, coerentemente com o deslocamento social da cidade, o “centro de lazer” saiu da região do Baar Xarqueadas / Café Recreio (1947), na Beira Rio, para o entorno do Clube Tiradentes (1959) e, agora, concentra-se na entrada da cidade, junto ao Parcão – Parque Adhemar de Faria (criado durante o segundo mandato de Anápio Ferreira, 2001/2004). Por fim, indiquei aos alunos a leitura dos livros de Saldino Pires e Benedito Veit, onde quem se interessa pela história de Charqueadas encontrará muita informação.

 
PS – Na mesma data, à noite, dirigí-me à Câmara de Vereadores para prestigiar a indicação, feita pelo vereador José Francisco (1960), do nome do ex-vereador Nelci de Moraes (1939) como um dos homenageados de sessão festiva do Legislativo. Ambos foram membros da primeira legislatura (1983 – 88). Chiquinho só não foi edil na terceira legislatura (1993- 96), por ter sido candidato a vice prefeito, não eleito. Olhando os cidadãos ali homenageadas e as lideranças políticas, tanto as mais jovens quanto as da velha guarda, pude perceber uma cidade que avança em sua história, assim como o percebi também no contato com as professoras e estudantes da escola Artur Dorneles. Na ocasião, lembrei igualmente de muitas pessoas que já não estão mais entre nós, mas que desempenharam seu papel na história de Charqueadas. Em especial, cito os nomes do ex-vereador Jorge Afre Rodrigues (1949 – 2012), da poetisa Valda Tissot Junqueira (falecida em 2013) e da comerciante Maria Loivaci de Lima (1937 – 2018).

Parabéns, Charqueadas, pelos seus 36 anos.


 
NOTA TRISTE da semana de aniversário de Charqueadas: Morreu na noite da última sexta-feira,23, a ex-servidora de carreira da Prefeitura de Charqueadas,  Tânia Ferreira. Colaboradora por mais de vinte anos da Secretaria de Planejamento Urbano, Tânia ficou conhecida na história da cidade por ter sido quem desenhou a bandeira e o brasão do Município, logo após a emancipação.
 



REFERÊNCIAS

PIRES, Saldino A. Charqueadas: sua origem, sua história, sua gente. Charqueadas: Folha Mineira, 1986.
PIRES, Saldino A. Histórias do povo de Charqueadas: um patrimônio ainda desconhecido. Charqueadas: Naiberte (Barra do Ribeiro), 2012.
VEIT, Benedito. Por que Charqueadas? São Jerônimo: Gráfica PBS, 2008.
VEIT, Benedito. Diário de Charqueadas. São Jerônimo: Info gráfica, 2011


Escola Artur Dornelles - Foto de Cláudio Silva

Texto publicadono site Portal de Notícias, em 28/03/2018: http://www.portaldenoticias.com.br/ler-coluna/535/charqueadas-36-anos.html
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 28/03/2018
Alterado em 29/03/2018
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