João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Fora PMs!

Do jeito que os PMs estão sendo publicamente achincalhados hoje em dia, eu proponho: fora PMs! Se os PMs são o mal, eu proponho aqui a cura: fora PMs! Vamos tirar todos os brigadianos das ruas pra ver se a coisa melhora. Quem nem em fevereiro de 2012, na Bahia. Só que lá os PMs fizeram greve, aqui eles ficariam recolhidos nos quartéis, por dez dias, recebendo os salários, fazendo ordem unida e lendo Foucault, Marx, Gramsci e Althusser a fim de refletirem sobre o papel da PM como aparelho repressivo do estado opressor. Seria a salvação de nossa democracia e um bálsamo para o estado de direito: fora PMs!

Teremos alguns probleminhas, claro, como no caso da Bahia: em dez dias de greve os homicídios aumentaram 106% por lá. Mas são detalhes sem importância, obviamente. Não seria isso a justificar a presença dos PMs nas ruas. “Policia para quem precisa de polícia”, como cantaram os Titãs em 1986 no LP Cabeça de Dinossauro. Aliás, no final do mês passado um dos vocalistas da banda, o Paulo Miklos, precisou da polícia, quando assaltaram a casa dele, em São Paulo. Mas, mesmo assim, reitero: fora PMs!

Nossos atuais manifestantes poderiam protestar, sem coerção alguma, contra símbolos capitalistas como órgãos públicos, TVs, museus, bancos e ônibus. Com relação aos dois últimos poderiam ser erroneamente confundidos com soldados narcotraficantes do PCC, que também andam mascarados a atacar bancos e incendiar ônibus. A diferença é básica: os bandidos levam o dinheiro dos bancos e usam armas, os nossos rebeldes, justiça seja feita, não fazem isso, só quebram e incendeiam. Uns tem motivação sócio-econômica; outros, político-ideológica. Logo, fora PMs!

Há também diferença entre o que era fazer manifestação no meu tempo (anos 1980 e 1990) e o que é realizá-las hoje: a gente ia pra rua, no máximo com a cara pintada, e apanhava da PM a mando dos governos. Hoje o pessoal vai pra rua mascarado enfrentar a PM para apanhar, mesmo com os governos segurando suas PMs. Tá, tudo bem, a minha geração não conseguiu muita coisa agindo assim, através da militância “bunda-mole” em partidos, sindicatos, movimento estudantil e associações: só colocamos governos de (centro) esquerda no Brasil, no RS, em Charqueadas, em São Jerônimo e em Butiá. Fora vereadores, deputados, senadores. Tudo bem, sei que as coisas não estão mais como eram antes e tampouco chegaram até onde queríamos, mas foi o que conseguimos em nosso momento histórico.
 
Mas estava falando que devemos tirar os brigadianos das ruas. Experiência anarquista maior que essa só se o pessoal entrar nos parlamentos e governos e retirar a força vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores e (até) a presidente do poder ao qual ascenderam pelo voto democrático do povo, que é o que de fato aconteceria, creio. Ah, acho que sobraria uma rebarba pro pessoal do Judiciário e da grande imprensa também, sei lá. Sem os PMs nas ruas, tudo isso aconteceria e faria um bem danado para a nossa democracia... ??? O problema seriam os vândalos e os bandidos. Ah, esses caras iriam estragar tudo!
 
Iriam estuprar, roubar, furtar, assaltar, assassinar, seria o caos. Pensando bem, não tive uma boa idéia. Bebi Tremapé em vez de 51. Fiquem PMs! Acho que a gente precisa da polícia, mesmo com todos os problemas que ela de fato apresenta e que devem ser sanados no âmbito de uma sociedade democrática e cidadã. Melhor que continuem por aí, as manifestações e a polícia, até porque os PMs são os que menos tem a ver com essa coisa toda. Nunca fui mesmo muito fã do som dos Titãs, sempre achei o minimalismo deles meio superficial.
 
À la FHC, peço que esqueçam tudo o que escrevi acima.

Fiquem PMs!

 
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 28/10/2013
Alterado em 28/10/2013
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