João Adolfo Guerreiro
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Bourdieu, 10 anos de ausência

Digo ausência porque o sociólogo francês Pierre Bourdieu partiu novo ainda para um intelectual, com a idade de 72 anos. Vivo, com certeza ainda estaria produzindo e participando das discussões acerca dos principais temas do mundo atual.

Foi ao ver sua foto na capa da revista Cult (www.revistacult.com.br) numero 166, de março desse ano, que eu me dei conta da data. Pensador exponencial de sua época, marcou os anos 80 e 90. Eu fiz meu trabalho de conclusão de Ciências Sociais no final dos anos 90 usando-o como principal referencial teórico.

O que me levou ao seu pensamento foi minha prática como militante político de esquerda à época, pois a complexidade de sua visão analítica da sociedade deu-me as respostas necessárias as questões que eu percebia em minha atuação e que não encontrava em outros pensamentos para mim reducionistas e simplificadores, principalmente na percepção da importância dos aspectos culturais da realidade social, por eles relegados a mero fenômeno subordinado a economia, como superestrutura determinada pela mesma. Para minha percepção prática o economicismo não era o melhor instrumento teórico para refletir e aprimorar a ação política.

Bourdieu se foi em janeiro de 2002, mas seu “capital simbólico” como intelectual persiste ao fim do homem físico, em virtude da importância tanto do “capital social” quanto do “capital cultural” que construiu em vida, para usarmos terminologias e conceitos próprios de sua obra.

Segundo o texto da Cult, “ele é hoje o segundo intelectual francês mais citado no mundo (...) segundo o Instituto de Informação Científica da Thomson Reuters, que faz o acompanhamento do número de citações em publicações acadêmicas” (p. 21). Em termos mais específicos a sua área, na mesma publicação, o doutor em sociologia Frank Poupeau refere que “Bourdieu é o sociólogo mais citado no mundo; se você pegar o American Journal of Sociology, não há praticamente um só artigo que não faça referência ao seu trabalho” (p. 22).

Curiosamente, mesmo a obra do sociólogo francês sendo atualmente “descoberta” nos EUA e Reino Unido, “a influência de Bourdieu me parece cada vez mais fraca na Franca”, afirma Bernard Lahire, professor da Escola Normal Superior de Lyon (p. 26). Isso ele atribui ao fato de que em seu pais “a sociologia atual recusa o retorno ao subjetivismo, a uma sociologia que estuda os fenômenos de dominação e desigualdade, que ainda fala de classes sociais ou dos efeitos - estatisticamente comprovados – da origem social e das posições socioprofissionais sobre os comportamentos sociais” (p. 26).

Para quem quiser saber mais sobre a obra de Bourdieu, em termos gerais, aconselho a comprar a Cult supra citada, que dedica 30 paginas com textos e entrevistas sobre a mesma, principalmente com Sérgio Miceli, sociólogo e professor da USP que foi o responsável pela introdução das teorias do pensador francês no Brasil durante os anos 1970. Quem quiser algo mais profundo pode pesquisar na Internet sobre os livros de Bourdieu, que tem grande parte de sua bibliografia traduzida para o português.

A editora Seuil esta lançando Sobre o Estado (657 paginas, 30 euros).

 

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 12/04/2012
Alterado em 16/04/2012
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